
A sustentabilidade, no seu sentido mais profundo, é a capacidade de algo se manter no tempo, sem se autodestruir. Uma sociedade sustentável não esgota os seus recursos, não adoece o seu povo, não intoxica o ambiente que a alimenta. Sustentabilidade é, por isso, um equilíbrio vivo entre três pilares: o social, o ambiental e o económico. E é precisamente nesta trindade que reside a nossa maior contradição.
O tripé desequilibrado
Hoje, falamos de sustentabilidade como se fosse um selo, uma marca verde colada em embalagens recicláveis. Mas enquanto isso, as desigualdades aumentam, os solos empobrecem, o clima enlouquece e as pessoas enlouquecem com ele. O que há de sustentável num mundo onde se produz cada vez mais e se vive cada vez menos?
No plano económico, vivemos num modelo que exige crescimento contínuo — mas que cresce como um tumor, sem direcção nem consciência. Produzimos objectos que nascem com data de morte: bens com ciclo de vida curto, feitos para quebrar, viciar, substituir. O lucro está em vender muitas vezes, não em vender bem. Com isso, desperdiçamos recursos e esgotamos o planeta, tudo em nome de um progresso que não sabe onde quer chegar.
Do ponto de vista ambiental, o impacto é brutal. Alterações climáticas, desflorestação, extinção de espécies, poluição dos oceanos, do ar, da terra. E no entanto, continuamos a discutir soluções tecnológicas como se pudessem resolver um problema que não é técnico, mas sim filosófico e civilizacional: o nosso modo de vida não é compatível com o planeta que temos.
No campo social, a crise é silenciosa mas profunda. O trabalho tornou-se cada vez mais precário, mecânico e desprovido de sentido. As pessoas são tratadas como peças substituíveis, e os laços sociais vão-se quebrando à medida que o consumo tenta preencher o vazio da alma. A pobreza veste-se de modernidade, mas continua a ser pobreza: falta de tempo, de segurança, de esperança.
Um ciclo de desperdício disfarçado de progresso
Vivemos num mundo onde os produtos são descartáveis — e as pessoas também. Onde tudo se faz rápido, tudo se esquece rápido, tudo se substitui rápido. O sistema ensina-nos a querer mais, mas dá-nos cada vez menos. Alimenta-se do desperdício — de matéria, de tempo, de vida.
E é aqui que a palavra “sustentabilidade” se torna desconfortável. Porque fingimos que é possível resolver a crise ambiental sem mudar o modelo económico que a criou. Como se pudéssemos continuar a correr sem sair do mesmo lugar. Como se bastasse reciclar mais ou andar de bicicleta, enquanto as engrenagens do sistema continuam a moer pessoas e paisagens.
Uma sustentabilidade sem alma?
A verdadeira sustentabilidade não pode ser uma estratégia de marketing. Tem de ser uma mudança de consciência, de valores, de prioridades. Temos de parar para perguntar:
– Que mundo estamos a construir?
– Para quem?
– E a que custo?
Porque enquanto não enfrentarmos a raiz do problema — este modelo económico frenético, extrativista e descartável — estaremos apenas a pintar de verde um sistema que, no fundo, está podre.
O que é realmente sustentável?
É sustentável o que tem sentido e tem alma. O que respeita o tempo natural das coisas. O que não explora até ao fim, mas cuida para que dure. Sustentável é aquilo que podemos passar aos nossos filhos sem vergonha. Não apenas um planeta com árvores, mas uma cultura com valores. Uma economia que respeita o humano. Uma sociedade que se reconhece no espelho.
Não é fácil mudar o rumo. Mas talvez seja mais difícil continuar como estamos.